sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

FALANDO DE IMPROVISAÇÃO

ALTEREGO: Do que você gostaria de falar hoje?
REIFF: Já que você me jogou essa bola enviesada, vamos falar sobre improvisação, que é o que se faz quando um entrevistador não vem com a pauta.

ALTEREGO: Então o que é improvisação.
REIFF: Eu improvisaria dizer que é um estado absoluto de liberdade. E de confiança.

ALTEREGO: De confiança?
REIFF: De confiança. Acho que a gente precisa abrir mão da minha idéia de como as coisas deveriam ser. Assim a gente pode estar aberto aos influxos do inconsciente e aos imputs dos parceiros, num processo de improvisação. Questionar é matar um influxo criativo.

ALTEREGO: Qual a correlação entre a improvisação e a criatividade?
REIFF: Quem sou eu pra ficar teorizando sobre as coisas. Mas vejo uma relação muito íntima entre criação e improvisação. Toda criatividade é improvisada, num certo sentido. Improvisar é dar espaço para o que vem. Para o novo. O impensado.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

HIPERESPAÇO

ALTEREGO: É verdade que você é avesso às coisas da tecnologia?
REIFF: Uma afirmação comos essa é muito radical. Eu não sou um cara que gosto de ser interrompido pelo celular, especialmente se é uma ligação de telemarketing. Mas eu me sinto um cara profundamente influenciado pela cultura do hiperespaço.

ALTEREGO: E o que é a cultura do hiperespaço?
REIFF: Taí uma boa pergunta. Nessa área, eu acho que toda falta de definição é positiva. São infinitos olhares sobre a mesma coisa, o tempo todo. Tudo são percepções, numa inter-relação orgânica, que a rede possibilita. Pra mim, o hiperespaço é um espaço hiper, um espaço além, um espaço onte tudo flutua, uma geléia geral muito interessante.

ALTEREGO: Então cabe tudo no hiperespaço?
REIFF: Cabe a imaginação humana, que é infinita, porque é uma análise combinatória de todas as mentes plugadas. Nossa capacidade de criação coletiva é exponencial, intergalática, diria o ex-ministro Gil.

ALTEREGO: Por quê você fala desse assunto de forma tão enfática, gesticulando até quebrar copos de cerveja ao seu redor ? (Reiff acabou de quebrar o copo de cerveja do entrevistador)
REIFF: (rindo) Desculpaê. Este sou eu, descendente de italianos. E de alemães, como o nome denuncia. Mas é uma ascendência remota, a alemã. A italina é mais próxima. Bem, mas voltado às vacas frias, eu falo de forma tão enfática porque essa nova percepção do homem sobre o universo cria uma nova consciência do que seja ser humano.

ALTEREGO: Por exemplo?
REIFF: Hoje eu me sensibilizo por uma série de coisas que antes não me sensibilizavam, porque algum olhar há de me tocar e me sensibilizar para alguma coisa, já que são tantos os olhares. Eu gosto muito do conceito de "beta", que a tecnologia nos trouxe. Ser beta é estar em constante evolução, é não ter o compromisso de estar pronto e acabado. Hoje empresas colocam no mercado sowftwares que são assumidamente beta. Num certo sentido, tira um pouco a responsabilidade do fabricante em entregar um produto sem erros. Mas, por outro lado, permite que os próprios consumidores ajudem a encontrar os defeitos e contribuir para a evolução do produto.

ALTEREGO: Você também entrega produtos que não estão prontos?
REIFF: Completamente. Muitas vezes publico algo e altero posteriormente. A internet fez os textos ficarem ainda mais vivos, porque se movimentam, se movem.
As vezes eu acho que uma coisa pode melhorar. Outras vezes, não. Acredito em coisas que merecem não ser mudadas. Mas acredito também em se fazer novas versões, em paralelo.

ALTEREGO: Eu disse que não tomaria muito tempo na entrevista de hoje. Obrigado mais uma vez por sua disponibilidade. Sei que você está atrasado para um compromisso.
REIFF: Gosto muito desse assunto. Vamos voltar a falar nele. Agradeço a você, mais uma vez pela oportunidade. Até a próxima.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

TER O QUE DIZER

ALTEREGO: Você vive dizendo que o importante é ter o que dizer. O que você tem a dizer sobre isso?
REIFF: Isso é tudo o que eu tinha a dizer. (risos)

ALTEREGO: Quem, pra você, tem o que dizer?
REIFF: Sempre que eu me deixo tocar por alguma obra artística, sinto que aquela pessoa tem o que dizer. Ou pelo menos para mim ela teve o que dizer. Ter o que dizer é sentir a necessidade de se expressar, uma necessidade tão arrebatadora, que o resultado é forte, tocante, tem personalidade.

ALTEREGO: Então só artistas têm o que dizer?
REIFF: Pra mim, artista é aquele que tem o que dizer. E ter o que dizer é ser honesto com a sua experiência. É ver algo de sagrado na sua verdade.

ALTEREGO: O que é arte pra você?
REIFF: É algo que me desperta algum tipo de consciência mágica. Tem pessoas que podem lavar louça com arte. Com um tal gral de presença e de entrega, que quem veja saia tocado dessa observação.

ALTEREGO: Você não está ampliando demais os horizontes do que possa ser considerado arte?
REIFF: Acho que o mundo precisa cada vez menos de rótulos. As pessoas são convidadas a se expressar. Aí ficam seguindo modelos, até que finalmente encontram essa sua vontade genuína de dizer alguma coisa. Nesse momento elas se transformam em artistas.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

ESCREVENDO CERTO POR LINHAS TORTAS

ALTEREGO: Você uma vez me disse que a sua maior paixão é escrever. Isso continua uma verdade?
REIFF: Não lembro de ter dito, mas se disse foi bem dito. A minha grande paixão é escrever, nas suas mais diversas acepções. Estar na frente do computador escrevendo é um vício. E eu quero viver cada vez mais desse vício.

ALTEREGO: Mas você também já disse que escreve com o olhar...
REIFF: Escrevo. Porque o escrever é um tipo de edição que a gente faz da vida, como um filme. Acho que eu estou cumprindo o meu papel de escritor quando viajo numa estória que vejo. Eu sou um voyeur. Me delicio com tudo que vejo.

ALTEREGO: Como leitor, você prefere o quê?
REIFF: Sempre fui muito dispersivo. Começava a ler um romance e quando ia voltar a ele não lembrava mais nada. Me habituei a ler crónicas, quando pequeno. Sempre gostei muito da linguagem poética, da forma trazendo um conteúdo. Eu passava a ver o mundo com os olhos do escritor. Coisas triviais sempre se transformavam em pratos saborosos. Acho que foram os cronistas que me ensinaram a degustar as cenas cotidianas.

ALTEREGO:Você tem se proclamado humorista. A sua ficção é necessariamente de humor?
REIFF: Ih, rapaz, essa é uma questão crucial. Eu digo que sou humorista porque as pessoas precisam que eu diga alguma coisa. Eu gostaria de dizer que sou escritor, mas nunca escrevi livro nenhum. Uma parte de mim diria que essa resposta seria muito presunçosa. Um dia eu quero viver mais de escrever. E quero logo poder dizer que sou escritor. Ou melhor: quero não precisar dizer que sou alguma coisa.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ARTES, RELIGIÕES E BLÁS

ALTEREGO: Quando começou a sua paixão pela arte?
REIFF: Eu faço arte desde pequeno. Só que hoje eu ganho mais do que puxões de orelha.
Arte é qualquer coisa que me sensibiliza e me convida a recriar percepções. A função imediata da arte é satisfazer uma necessidade do artista em dar à luz. Quando o artista bota algo no mundo, ele se descobre naquilo que criou.

ALTEREGO: Você vê uma função mística na arte?
REIFF: Embora a arte não seja feita com esse propósito, ela é permeada de consciência, que gera lucidez, que gera aceitação, que gera compaixão, que gera amor.
Quando uma obra de arte nos fala ao coração, ela nos abre para a percepção do outro. Estar presente para a viagem do outro é que nos tira da nossa viagem, da nossa mente, do nosso ego. A arte proporciona experiências muito próximas ao Zen Budismo.

ALTEREGO: Você é religioso?
REIFF: Já estudei muito a religiosidade humana. Sou apaixonado pelo trabalho do Campbell, explorando o mito. A religião é um acervo mitológico. E todos os mitos são derivações de arquétipos. Assim, todas as religiões são iguais em sua essência arquetípica. Em outras palavras, a água pode virar gelo nos mais diversos formatos. Uma vez derretida a forma, tudo é água.

ALTEREGO: Mas você já esteve ligado ao Zen Budismo, como mencionou?
REIFF: O zen budismo é a corrente filosófica do budismo. Ela não é mágica. É racional, portanto é passível de experimentação. Observando as percepções tão diferentes das pessoas sobre as coisas, percebo que a minha verdade é relativa. Percebo que a minha mente experimenta idéias, com as quais me identifico. A importância que normalmente damos ao Ego vai se corroendo, o que nos permite, aí sim, viver a experiência mágica da unidade, da fluência. Como sempre gostei de filosofia, acabo puxando a sardinha pro Zen Budismo, pro Taoismo, pro trabalho do Osho. Gosto dessa coisa experimental, proporcionada pela Meditação Transcendental, pelo Yoga, pelo T'ai Chi Chuan...Eu não tenho que acreditar em Deus, mas se eu me deixar fluir, vou acabar sentindo Deus, ou melhor, a consciência da unidade.

ALTEREGO: O que é essa tal consciência da unidade?
REIFF: É aquela questão da água que vira gelo. Quando a gente se vê derreter - e isso às vezes dói, veja o caso das bolsas - a gente começa a voltar à essência. E começa a se sentir ligado a tudo que está a nossa volta. É um tipo de compaixão, de disponibilidade, de presença. As coisas começam a te importar. A tal ponto que você se vê fluindo. O lado mágico acaba aparecendo naturalmente. Você pensa em alguém, a pessoa liga. Você precisa de recursos, eles aparecem. O medo da morte vai ficando cada vez menor. Morte é só um reflexo da ilusão de separatividade. Quando você já se percebe fluindo, a morte também é fluência.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A BUSCA COMO FIM

ALTEREGO: Onde você quer chegar?
REIFF: Não sei. Eu sei onde eu não quero chegar. Já é alguma coisa. É como descascar uma cebola infinita. A gente vai tirando camada e vem outra, e outra. De repente, o grande barato é esse mesmo. A natureza não quer chegar em lugar nenhum. Só quer continuar existindo.

ALTEREGO: Você é engajado em causas ecológicas?
REIFF: Depende. Eu não faço parte do Green Peace e de nenhuma ONG relacionada à preservação ambiental. Mas eu vislumbro relações mais ecológicas em tudo. Relações mais generosas e fluidas entre as pessoas, que certamente inspirarão relações mais ecológicas com a natureza. Acho que o que falta é um pouco de poesia, de humor, de aceitação.

ALTEREGO: O humor não é exatamente a não aceitação?
REIFF: Sim e não, como diria o Celso Lafer que foi meu professor, do que eu me orgulho muito, porque suas aulas de filosofia me ajudaram a entender o mundo de um jeito mais elegante. Bem, o humor é sempre uma quebra de paradigmas, um "pensamento lateral", que também é a origem da criatividade e de muitas outras coisas. No sentido de ousadia para se ter um olhar diferenciado, o humor expressa a não aceitação. Mas o humor também é a possibilidade de aceitação de tudo que vem, fugindo ao tradicional, ao esperado. Casa percepção nova que se tem sobre as coisas nos faz intuir que o universo é pródigo, generoso, fluido. Isso pra mim é divino.

ALTEREGO: Qual é a sua visão de Deus?
REIFF: Acho que a palavra Deus ficou tão estigmatizada, que na minha percepção de religião ela nem é necessária. Eu sou um cara que confio na existência. É isso. Sinto uma sofisticada trama subjacente a tudo que rola.

ALTEREGO: Então você acha que está tudo escrito?
REIFF: Sim e não. No sentido de que nada acontece por acaso, sim. Entretanto eu acredito que essas determinações acontecem no frescor de cada momento. Estamos todos criando essa trama, mesmo sem termos consciência disso.

ALTEREGO: Qual é a sua contribuição?
REIFF: Eu quero ser cada dia mais consciente e feliz. A felicidade é um efeito da consciência. Quando você começa a ser perceptivo, começa a perceber o discurso das coisas, a cada momento.
Sendo feliz, cobrarei menos das pessoas com quem convivo. Posso ter relações mais ecológicas com elas, respeitando seus movimentos. A palavra hoje é diversidade. Eu ando encantado com a diversidade. É isso que deixa a vida cheia de surpresas.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

TRABALHO EM EQUIPE

ALTEREGO: Além de escrever, você faz humor stand-up, no qual o humorista está só no palco. Você já fez humor em grupo?

REIFF: Eu gosto dessa idéia de humor grupal (risos) . Quando eu era pequeno, me encantava com o Gordo e o Magro, Os Três Patetas, os Trapalhões, I love Lucy, Tom e Jerry...Sempre gostei de escrever diálogos e pensar em situações hilariantes dos relacionamentos. Pra mim, a parte mais frustrante do stand-up é um certo individualismo. Os humoristas se aglutinam virtualmente, formando um show. Mas a história de se jogar junto é muito legal. E é difícil: fazer humor em equipe requer muito timing. É importante que os artistas estejam sintonizados. E que se curtam. Aí pode ser mágico.

ALTEREGO: Quer dizer que você não acredita num trabalho grupal onde os humoristas não se biquem?

REIFF: No Stones, o Keith Richards e o Mick Jagger não se bicam muito, mas fazem um trabalho integrado, graças a um esforço em busca do profissionalismo. Mas em termos de humor, eu acho isso muito difícil. Fazer humor é como fazer amor: você precisa estar numa sintonia, pra que a coisa fique realmente boa. Precisa respeitar cada passo do outro, para que a dança seja fluida, perfeita. Quando rola ego, ficam os dois numa viagem individual e a mágica do encontro não acontece. Acho que é a platéia se encanta é com a dança, a sintonia perfeita, porque isso toca em um arquétipo, que é a possibilidade de que somos um e que toda dualidade é ilusória. No fundo, nós sabemos disso, mas temos que ser lembrados pela arte.

ALTEREGO: Então o trabalho em equipe é mágico?

REIFF: Exatamente. Eu acho mágico o trabalho do Jogando no Quintal, que conheço desde quando éramos apenas 20 espectadores num quintal. Assim como gosto muito do trabalho de improvisação, de uma forma geral, porque acho que é uma coisa que faz mágica. Quando se está num espaço de disponibilidade, de aceitação, de leveza, qualquer parada na vida ganha esse grau de magia. Dançar com as circunstâncias é a maior sabedoria. Sábio é aquele que não se opõe. Mas que se dispõe.

ALTEREGO: Você sempre gostou de trabalhar em equipe?

REIFF: Não, eu sempre fui muito ermitão. Foi muito recentemente que eu comecei a acordar para essa coisa de trabalho em equipe. E acordar pra essa coisa de viver em relação com o outro. Os artistas pagam um preço alto por passarem muito tempo em seus planetas pessoais.

ALTEREGO: O que você tem ganhado com essa mudança?

REIFF: Muita coisa. Primeiro, porque eu atenuo a força do meu ego. É ótimo ver pessoas talentosas e gostar do trabalho delas. Dá uma espécie de alívio. Porque senão a gente fica numa paranóia de ter que mudar o mundo, contribuir e coisa e tal.
Quando a gente vê outras pessoas talentosas, a gente acha que a vida pode ser gasta de forma muito mais natural. Porque tem muita gente talentosa por aí. E o que faz nossos horizontes se alargarem é a possibilidade de experimentar todas essas outras possibilidades de vida que estão à nossa volta.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ARTE SUSTENTÁVEL

ALTEREGO: O que você quer dizer com "arte sustentável"?
REIFF: A arte que não tem por objetivo acontecer, com essa urgência que o mundo atual impõe às pessoas. A arte sustentável vai buscar aspectos essenciais da questão humana, algo que não é fácil, porque temos uma profunda dificuldade de enxergar o simples. Claro que estou cunhando essa expressão na esteira de tudo que se diz "sustentável" e que expressa os ditames da tal "sustentabilidade". Mas nessa associação, busco valorizar a função da arte como um agente de conscientização, de construção de uma relação mais "ecológica" entre os seres humanos.

ALTEREGO: Na prática, como isso é possível?
REIFF: A internet criou um extraordinário espaço de expressão artística, ao mesmo tempo que gerou uma profunda ansiedade nas pessoas, que se viram na contingência de aproveitar urgentemente esse espaço dado. Esse senso de urgência é interessante porque leva as pessoas a quebrarem uma inércia e começarem a fazer algo, o que é ótimo, porque a arte é um processo de elaboração, que só pode acontecer a partir da experimentação. Entretanto, o desejo de ter um trabalho rapidamente reconhecido muitas vezes desmotiva artistas que estão em pleno processo de elaboração. Interessante também notar que o reconhecimento esperado se dê em números de visitas, por exemplo, quando talvez o que importe mais seja a qualidade dos visitantes.

ALTEREGO: O que qualifica os visitantes?
REIFF: Uma identificação com a linguagem artística disponibilizada. Cada vez mais vai acontecendo uma diversificação dos conteúdos, de forma que começam a se formar pequenos nichos de interesse. o importante é que cada artista encontre o seu público, que pode não ser grande, mas que deve ser fiel. Buscando agradar diversos públicos, a manifestação artística pode perder consistência e força. Com isso eu não quero dizer que algo que seja expressivo em termos numéricos não tenha força e qualidade. Mas acho importante levarmos em consideração que existem coisas de qualidade que não atraem um grande público, mas que atrairão, sim, um público específico, identificado com a linguagem.

ALTEREGO: Como essa teoria se expressa na sua arte?
REIFF: Houve um momento em que eu também sentia uma pressão para não "perder o bonde". Tinha um desejo de ter meu trabalho como artista reconhecido, até porque abri mão de uma pródiga carreira de publicitário para viver daquilo que eu considerava uma expressão artística mais genuína. Aos poucos eu tenho experimentado um prazer maior nos meios do que nos fins. Em outras palavras, já não estou tão preocupado com o número de visitas que um vídeo meu tenha. Mas me interesso pelo feedback do meu público, aprecio essa carpintaria, essa relação sinérgica entre artista, público e objeto artístico. No fundo, acho que o artista acaba construindo junto com seu público. Nessa relação eu vou experimentando uma sensação de transcendência. Saio do ego e vivo uma realidade arquetípica. Tenho me tornado um cara mais sensível e perceptivo, deixando de lado uma obsessão por dar certo. O que sempre dá certo é esse crescimento que a gente experimenta fazendo, trocando, se conscientizando. Quando as coisas estão prontas, elas acontecem. Acho que essa é uma lei indiscutível. Se algo ainda não aconteceu, não se preocupe. Continue fazendo o seu trabalho com amor, com verdade, com coragem e determinação. O que é bom é o que fica.

sábado, 6 de setembro de 2008

EGOS, VAIDADES E PERFUMARIAS

ALTEREGO: Um cara que dá uma autoentrevista só pode pensar que tem o rei na barriga. Você se acha?
REIFF: (risos)Não. Eu não me acho. Eu só me procuro. Tem uma frase que eu gosto muito: "Escrevo porque me vomito desde a alma, e me descubro no que vejo". É escrevendo que eu me encontro. E falando sobre valores, consigo identificar o que está por trás de todo o meu fazer artístico.
Tem outra frase minha que também se encaixa aqui: "Pra viver mais leve, eu tiro o rei da barriga".



ALTEREGO: Escrever é o que você acha que faz melhor?
REIFF: Não sei. Gosto escrever. Levo meus textos para o palco até que alguém os leve pra mim. O palco também é um desafio sedutor. Tem toda uma linguagem que não cabe na escrita.

ALTEREGO: Você se diz mímico e músico. Como é isso?
REIFF: Já fui muito apaixonado pela mímica. Eu era moleque e me apresentava no clube de Bebedouro, minha cidade natal. Fazia pequenas esquetes, no meio da boate. Era muito legal. Depois fui estudar com grandes mímicos no SESC, o Claudio Coutinho e a Helena Figueira. Também fiz curso com o Fernando Vieira. Acho a mímica uma coisa mágica, assim como o texto. A gente cria uma viagem pra quem nos assiste.

ALTEREGO: E a música?
REIFF: Eu vejo as pessoas tão apaixonadas pela música que eu fico até sem jeito pra falar como ela é importante pra mim. Eu sempre me surpeendo e me encanto com a boa música. Toco alguns instrumentos musicais, de forma puramente intuitiva. Isso impõe uma limitação, porque ninguém pode tocar bem se valendo apenas da inspiração. Mas não me intimido. Acho que a arte é uma forma de expressão, e a gente só pode lapidar se estiver fazendo.


ALTEREGO: Como você se define.
REIFF: Eu não me defino. Estou em paz com a minha barriga. (risos)Mas, de boa, cada dia que passa eu sei menos quem sou. Gosto de me surpreender. Eu vou me inventando, vida afora.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O QUE É BOM FALA POR SI

ALTEREGO: Quem é engraçado pra você?
REIFF: Qualquer um que esteja sendo autêntico, que se expresse de forma verdadeira. Quando estamos assim, somos naturalmente carismáticos, envolventes e engraçados.
O problema é que passamos o tempo todo tentando ser diferente do que somos. E perdemos exatamente o que temos de melhor, que é a nossa capacidade de fluir, de sermos genuinamente espirituosos.

ALTEREGO: O que fazer então?
REIFF: Observar. Aos poucos podemos perceber que damos uma volta enorme pra chegarmos a um lugar de onde nem precisaríamos ter saído.

ALTEREGO: Como assim?
REIFF: Vivemos buscando modelos e nos esforçamos para nos encaixarmos nesses modelos. Vai aí uma extraordinária energia. Quando conseguimos representar bem o papel, também nos sentimos impostores, porque sabemos que, no fundo não somos aquilo.
Gosto muito do humor que se apóia na improvisação. A magia da vida está em fluir. Tudo que acontece com esse grau de presença, de disponibilidade, de entrega, produz um encantamento. Ninguém suporta mais as coisas artificiais. As fórmulas. A manipulação. A diversidade está em alta. Não temos que ser iguais. Isso é muito chato.

ALTEREGO: Você acha que o seu humor reflete isso?
REIFF: A intenção é a de que reflita, cada vez mais. Eu sempre fui daqueles caras críticos, exigentes, muitas vezes inflexível. Agora estou aprendendo a fluir. A me divertir com a minha incompetência e me encantar também com a a poesia que encontro nessa minha ingenuidade. Tentando acertar, eu só errei. Não tendo medo de errar, eu percebo que começo a acertar.

ALTEREGO: Quer dizer que você está dispensando a elaboração artística?
REIFF: Não sei. Tive que elaborar muita coisa pra chegar nesse estágio mais "naif". Não é fácil a gente abrir mão do controle, dar a cara a tapa, ousar ser verdadeiro.
Quando atinge essa forma essencial, a arte ganha um poder atômico. Acho que a gente gasta muito tempo querendo aparecer, garantir um espaço e coisa e tal, quando deveríamos mais buscar essa condição essencial. Daí flui uma arte vigorosa, contagiante, reverberante. Normalmente temos pouco a dizer, por isso a repercussão da nossa arte é tão pontual. Tem um ditado na Índia que diz que quando o discípulo está preparado o mestre aparece. Tudo acontece na hora certa. A colheita só é proveitosa se for feita no momento certo.

HUMOR ECOLÓGICO

ALTEREGO: A essa nossa pequena entrevista, você deu o nome de "humor ecológico". O que você quer dizer com isso?
REIFF: Humor ecológico é um tipo de interferência humorística que não atropela, não se impõe de forma grosseira. É aquele humor apropriado a cada momento, porque não se estabelece sem considerar o seu meio em que se desenvolve. É um tipo de humor que se disponibiliza àqueles que quiserem usufruir dele, mas que não força a barra. Hoje tenho visto muitas vertentes de humor pouco ecológicas. O cara que conta piada num meio em que as pessoas estão querendo apenas conversar, por exemplo, não está sendo ecológico.

ALTEREGO: Mas a função do humor não é mexer, cutucar, destruir padrões?
REIFF: É. Mas Gandhi também fazia uma revolução silenciosa, ecológica. E a Índia ganhou sua independência, sem agressão. Não acho que o humor precise agredir. Já disse antes que o humor e o amor, pra mim, estão muito interligados.

ALTEREGO: Isso reflete uma falta de coragem?
REIFF: Acredito que não. Sermos fiéis aos nossos princípios é um ato de coragem. Cada vez mais vou me deixando seduzir por coisas que não encontrem eco no meu coração. Faço humor pra encontrar o que pode haver de melhor em mim mesmo. Porque é isso que pode inspirar o outro a ver a vida com mais sensibilidade. Não tenho uma missão messiânica. Não quero mudar ninguém, embora me sinta muito feliz quando alquém se sensibiliza com a minha arte. Porque nós somos aquilo que contribuímos.

ALTEREGO: Como você acha que tem contribuído?
REIFF: Acho que tenho contribuído disponibilizando a minha verdade, cada vez mais.
Cada um de nós é profundamente contributivo, sem ter que se esforçar pra isso. A vida se enriquece com essa diversidade. Cada vez que vejo alguém agir de uma forma diferente, amplio minha percepção sobre a vida. Cada pessoa já é, como é, uma extraordinária contribuição.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

HUMOR ESSENCIAL

ALTEREGO: O humor tem muitas linguagens. O que existiria em comum entre todas essas linguagens, que a gente pudesse chamar de essência do humor?

REIFF: O humor, pra mim, é algo que enleva o espírito. É assim que eu o vejo, e não quer dizer que essa seja a verdade, até porque não acredito que exista uma verdade. Mas pra mim o humor é algo que me toca a alma, assim como a poesia e as artes em geral. Acho que o humor tem que romper padrões, surpreender, encantar as pessoas, que já estão cansadas do óbvio.

ALTEREGO: E o que você acha que não é humor?
REIFF: Clichês em geral. Se a função da arte é romper paradigmas, não existe nada tão sem arte quanto o clichê, a fórmula pronta, a receita. Isso é uma chatisse atmosférica. Tem muito artista que não ousa pensar, e nem mesmo sentir. A criatividade é um ato de ousadia, de fluência, de transcendência, de vitalidade. O artista tem que correr riscos, fazer uma coisa viceral. Sem isso fica uma arte morta, sem vibração. A arte é uma expressão da vida que pulsa no artista. Se não tem vida, não tem arte.

ALTEREGO: O que é um clichê?
REIFF: Até mesmo falar sobre clichês é um clichê. É um pensamento padrão, um jeito comum de ver as coisas, uma formula desgastada de se atingir um objetivo, um tipo de manipulação. O bom humor tem frescor. O novo pode ser feito de cacos do velho. Mas não adianta dizer o que todo mundo diz, e da maneira com que todo mundo diz. Isso é clichê.

ALTEREGO: Você sugere que o humor inspire uma transcendência?
REIFF: Perfeitamente. Quando eu desconstruo padrões estabelecidos, eu liberto a imaginação das pessoas. Isso é mágico. Produz um encantamento, uma estranha sensação de felicidade. E é por isso que eu vejo o humor como um processo alquímico. Uma expansão de consciência que se dá por osmose, por assim dizer.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ARTE E LOUCURA

ALTEREGO: Muita gente acha que você tem um pino a menos na cabeça. Ou a mais. Você se acha louco?
REIFF: O louco não se acha louco. Ele acha que loucos são os outros. Eu me acho muito é são. Até demais. Acho que a pergunta deveria ser "Você é feliz?"

ALTEREGO: Você é feliz?
REIFF: Muito. E com todos os perrengues que a vida também nos dá. Mas eu sou cada vez mais feliz. Faço a minha arte sem preocupação de agradar. Vou deixando os apegos e me apegando aos amigos. Puxa, gostei dessa frase. Vou colocar no blog.

ALTEREGO: O que é felicidade?
REIFF: Acho que é o prazer de viver. O prazer de estar na vida pra valer. Sair da arquibancada e entrar na quadra pra jogar. Eu sou feliz porque vivo cada vez mais assim. Mais vivo.

ALTEREGO: Muita gente acha que você dá tiro pra todos os lados. É assim que você se sente? Um franco atirador?
REIFF: Putzk. Não. Eu acho que sou uma espécie de antena. Eu vejo milhões de coisas passarem pela minha cabeça. E eu as trago pra vida exterior.

ALTEREGO: Você é médium, ou algo assim?
REIFF: Não. Não sei. Não tenho nenhuma autoridade pra falar sobre esse assunto. Só sei que vivo torrentes emocionais que passam por mim e deixam coisas. Pode ser essa a minha loucura. Mas confesso que gosto muito de viver essa loucura.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

O HUMOR E A POESIA

ALTEREGO: Você já foi muitas coisas na vida e hoje você se diz humorista. O humor é a síntese da sua missão, da sua arte?
REIFF: Que pergunta! Hoje eu digo que sou humorista porque a sociedade precisa de rótulos. E porque não quero mais que as pessoas me pensem como publicitário, se é que elas me pensam. Também me agrada dizer que sou músico, mímico, cartunista, embora nunca tenha assumido nada disso profissionalmente. Digo que sou humorista porque preciso dar um pouco de foco às minhas atividades, e o humor tem permeado muito do que eu quero dizer hoje. Mas eu acho que gostaria mesmo é de poder dizer que sou poeta. Sou amigo de grandes poetas desde pequeno, embora eles nunca tenham sabido disso.

ALTEREGO: Quem, por exemplo?
REIFF: Em minha adolescência, Vinícius frequentava minha casa e as dos meus amigos, em Bebedouro, minha terra natal. Entrava pelas páginas de seus livros. Convivíamos com ele. Com o Chico Buarque, de quem comprávamos todos os discos. O Drummond e o Neruda também participavam de nossos encontros. E tínhamos um poeta praticante entre nós, o Rodolfo Moreira Castro. Eu era fã do Rodolfo tanto quanto era do Drummond. Com a diferença que com o Rodolfo dava pra catar os cacos de poesia que ele ia deixando pelo dia-a-dia.
Existiam uns facículos de literatura comentada que eram esperados ansiosamente por mim toda semana. Conheci Ferreira Gullar, Mário Quintana, Manoel de Barros, Fernando Pessoa. Sempre gostei muito da prosa poética. Mais solta, mais coloquial, flúida, contemporânea. A forma é maravilhosa quando bem usada. Mas o olhar poético é insubstituível.

ALTEREGO: E qual a correlação que você vê entre o humor e a poesia?
REIFF: O humor e a poesia têm limites muito tênues entre si. A origem da palavra humor está relacionada com os influxos emocionais da alma humana. O humor subverte, transcende. Ele é capaz de driblar a mesmice, a miopia e a mecanicidade da condição humana. Através do humor e da poesia o homem se universaliza, se espiritualiza, ganha sabedoria. Eu gosto muito do humor fino, do humor inteligente, que dorme na mesma cama com a poesia.

terça-feira, 22 de julho de 2008

T O Q D Z

ALTEREGO: Criar não é fácil. Como é que o artista pode se adubar pra essa necessidade?
REIFF: Tomando gosto pela vida. A arte dos outros nos ajuda a olhar pra vida de uma forma mais nutritiva. A gente se sensibiliza, vê as coisas através de novos pontos de vista, e vai tendo algo a dizer, a partir do que se sente. Aí a gente transborda em arte. Que ajuda os outros a olhar pra vida de uma forma mais nutritiva e assim por diante. Mas a grande parada é tomar gosto pela vida. É degustar as sensações, quaisquer que sejam elas. Assim a gente pode falar algo real e pulsante na nossa arte.

ALTEREGO: Você acha que a internet banalizou o fazer artístico?
REIFF: Não. Muito pelo contrário. Criou espaço para que as pessoas buscassem se descobrir fazendo arte. Os críticos dizem que a enxurrada de coisas ruins acaba escondendo as coisas que realmente são boas. Mas eu não concordo. Porque as coisas que realmente são boas, que têm consistência, acabam conquistando seu merecido espaço. Mas tudo que foi feito de ruim certamente teve a importante função de despertar cada autor para um tipo de fazer artístico. O espaço dado fez com que as pessoas deixassem de falar, pra começar a fazer. A própria diversidade nos proporciona uma visão crítica muito mais sofisticada sobre aquilo que entendemos por arte.

ALTEREGO: Mas você não acha que a cultura de massa, por ter apelo comercial, rouba um importante espaço que seria dado a coisas mais elaboradas?
REIFF: Sim e não. Acho esse tipo de resposta perfeito. Porque pra tudo existe um sim como existe um não. Se por um lado alguns investidores pretendem ter números de audiência, outros preferem ter qualidade de audiência. Assim, o espaço virtual abre campo para os mais diversos interesses sejam atendidos. Pequenos grupos podem estar dispostos a pagar bem por artigos que antes não encontravam, porque o mercado não tinha espaço para produtos pouco comerciais.

ALTEREGO: Tem se observado que, de forma geral, o artista criativo não tem controle sobre a sua obra, nem recebe dividendos do seu sucesso da sua obra na net. Como você vê a questão da remuneração do artista nesse novo ambiente?
REIFF: Essa é uma questão profundamente interessante. Especialmente porque subverte ordens e valores pré-estabelecidos. De onde as pessoas esperam, o dinheiro não virá mais. Entretanto, virá de muitos outros lugares. Quando alguém tem o que dizer, infinitas possibilidades se abrem. Porque em qualquer espaço é útil se ter pessoas que agreguem, que inspirem, que transformem. As atividades produtivas todas estão passando por transformações profundas. Quem tem o que dizer vai acabar virando referência nesses novos tempos.

domingo, 20 de julho de 2008

PRÓS E CONTRAS

ALTEREGO: Quais os prós e os contras que você vê na sua arte?
REIFF: Na minha arte, eu não sei. Em mim, eu sei um pouco. O falta e o excesso de humildade. A verdadeira arte flui entre os gravetos do nosso ego. O ego é uma merda. Mas é da merda que nós rimos. A idiotice humana é o suprassumo do humor, a quintessência. Quando nos damos conta dessa ilusão toda na qual vivemos, temos um lampejo de iluminação. Por isso que o humor é algo divino.

ALTEREGO: Não mude de assunto. Quais são os defeitos que você vê em si mesmo?
REIFF: Essa coisa de perder o foco, de pensar a vida em hiperlinks, desde pequeno. Viajar demais é o meu pior lado. Mas também é o melhor.

ALTEREGO: Por quê?
REIFF: Porque a vida pode ser mais imaginativa, mais criativa, mais espirituosa. E nisso eu posso contribuir. Por outro lado, quem vive num planeta onde se paga contas tem que realizar. E pra isso é preciso ter foco, concentração, planejamento. Eu sou DDA. Tenho o tal Distúrbio do Déficit de Atenção. A minha mente salta de galho em galho que nem macaco. Pode ter dado a volta ao mundo, mas não chegou em lugar algum.
Estou escrevendo, resolvo pegar o sax e tocar uma música, aí me dá vontade de ligar pra alguém, mas eu me lembro que preciso tirar a roupa do varal, no caminho resolvo fazer um pão de queijo, mas me lembro que as compras ficaram no carro, aí me lembro que o carro ficou no supermercado...

ALTEREGO: Não deve ser fácil conviver com alguém assim.
REIFF: Em muitos momentos eu não me aguento. Se eu consigo rir de mim, é um alento.
O ungüento. Hoje eu rio. Amanhã eu oceano.

sábado, 19 de julho de 2008

TEATRO

ALTEREGO: Você é formado em Direito, estudou na USP, fez especialização e abandonou tudo pra trabalhar com Propaganda. Qual a explicação?
REIFF: Não tem explicação. Trabalhei quase 20 anos com Propaganda e voltei a largar tudo pra viver de teatro. Tem um livro sobre a vida do Flávio Rangel que tem esse nome "Viver de Teatro". Acho que deve ser o máximo poder viver de teatro.

ALTERGO: Você não fez nenhum curso profissionalizante de teatro, como você se vê como ator.
REIFF: Péssimo. Eu não sou ator. Sou um performático, que executa a que cria. Assim é mais fácil. O ator requer um grau de disponibilidade que eu ainda não cheguei a ter. Acho que ainda tenho muito ego no meio do caminho. Sou meio durão. Fiz muitos cursos livres de teatro, mas foi só pra respirar teatro mais de perto.

ALTEREGO: E o que é o teatro pra você?
REIFF: Não sei. Ápenas sinto. Eu assistia a todas as peças disponíveis na Campanha da Kombi. Fazia todos os cursos livres. Participava de todos os seminários para a discussão do teatro: TAPA, AGORA, CPT...Acho que o teatro era um universo mágico, um exercício de criar vida. Até hoje não sei o que é o teatro. Assim como não sei o que é Deus. Apenas sinto.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

ALTEREGO: Você mexe nas coisas que faz?
REIFF: Durante muito tempo eu não mexi. Achava que a peça tinha o frescor daquele exato momento, que deveria ser cristalizado pela arte. Mas depois, com as facilidades do computador, comecei a trair meus ideais. Eu acreditava que a minha vida seria estudada e que seria mais fácil para o meu biógrafo encontrar coerência se a coisa fosse analisada à luz daquele contexto. Hoje eu não tenho essas pretenções. Tem coisas que eu lapido mesmo, porque acho que têm potencial pra melhorar.

ALTEREGO: Por que você achava que teria um biógrafo?
REIFF: Não sei. Guardava cadernos do primário. Um dia joguei tudo fora. O mais importante pra mim não é mais ser reconhecido como um talento precoce. Mas é deixar disponibilizar alguma coisa que seja boa. Cada vez mais eu me vejo como um canal. Já sou suficientemente grato, feliz e satisfeito por experimentar esse olhar poético sobre a vida. Nenhum reconhecimento vai me dar mais prazer do que o próprio prazer de ver a vida de forma holográfica, como eu acho que vejo.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

PAIXÃO PELAS PALAVRAS

ALTEREGO: Como começou essa sua paixão pelo texto?
REIFF: Acho que começou junto com a própria alfabetização. Pra mim era uma coisa mágica ver uma estória brotar de uma folha de papel. Logo eu comecei a me interessar por obras literárias mais "pontuais", como a crônica, a prosa poética, o conto. Sempre fui muito hiperativo, com interesses múltiplos, então ficava difícil ler um romance, por exemplo.

ALTEREGO: E quais foram os autores importantes pra você?
REIFF: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Lourenço Diaféria, Flávio Rangel, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, Mário Quintana, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles...desde pequeno eu era amigo dessa gente.

ALTEREGO: E quando você começou a tomar gosto pela escrita?
REIFF: Meu pai teve uma importante influência. Éramos muito pequenos, quando ele inventou que, para ganharmos nosso dinheirinho semanal, deveríamos desenvolver uma "composição", sobre um tema previamente definido. Eu e meus irmãos estudávamos o assunto, escrevíamos o texto e depois tinhamos um feedback dele. Era um exercício maravilhoso. Comecei a gostar da coisa.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

A VIDA ATÉ QUE FAZ SENTIDO

ALTEREGO: Por que essa necessidade de escrever?
REIFF: Quando eu escrevo, me vejo tomado por muitas vozes. É como se os meus limitados horizontes pessoais repentinamente se abrissem. Tem muita vida escondida na imaginação.

ALTEREGO: O que é necessário pra escrever?
REIFF: Há um tempo atrás eu achava que precisava estar sempre com o meu laptop a tiracolo, pra escrever quando sentisse necessidade. Hoje eu estou convencido de que escrever é uma coisa do olhar. Escrevo andando pelas ruas, sem nada nas mãos. Às vezes, acho que preciso anotar alguma coisa. Mas escrevo antes mesmo de anotar.
E anotar pode ser um memo de voz no celular.

ALTEREGO: Então o que é, essencialmente, escrever?
REIFF: É a transformação da realidade pela intervenção do observador. Eu dou o meu colorido pras coisas que vejo, e disponibilizo isso para que os outros possam ampliar suas percepções sobre as coisas. Escrevo com um cartum sem palavras, com uma performance de mímica, com uma foto. Qualquer linguagem artística serve à escrita.
O importante é a gente ter o que dizer.