quarta-feira, 12 de novembro de 2008

HIPERESPAÇO

ALTEREGO: É verdade que você é avesso às coisas da tecnologia?
REIFF: Uma afirmação comos essa é muito radical. Eu não sou um cara que gosto de ser interrompido pelo celular, especialmente se é uma ligação de telemarketing. Mas eu me sinto um cara profundamente influenciado pela cultura do hiperespaço.

ALTEREGO: E o que é a cultura do hiperespaço?
REIFF: Taí uma boa pergunta. Nessa área, eu acho que toda falta de definição é positiva. São infinitos olhares sobre a mesma coisa, o tempo todo. Tudo são percepções, numa inter-relação orgânica, que a rede possibilita. Pra mim, o hiperespaço é um espaço hiper, um espaço além, um espaço onte tudo flutua, uma geléia geral muito interessante.

ALTEREGO: Então cabe tudo no hiperespaço?
REIFF: Cabe a imaginação humana, que é infinita, porque é uma análise combinatória de todas as mentes plugadas. Nossa capacidade de criação coletiva é exponencial, intergalática, diria o ex-ministro Gil.

ALTEREGO: Por quê você fala desse assunto de forma tão enfática, gesticulando até quebrar copos de cerveja ao seu redor ? (Reiff acabou de quebrar o copo de cerveja do entrevistador)
REIFF: (rindo) Desculpaê. Este sou eu, descendente de italianos. E de alemães, como o nome denuncia. Mas é uma ascendência remota, a alemã. A italina é mais próxima. Bem, mas voltado às vacas frias, eu falo de forma tão enfática porque essa nova percepção do homem sobre o universo cria uma nova consciência do que seja ser humano.

ALTEREGO: Por exemplo?
REIFF: Hoje eu me sensibilizo por uma série de coisas que antes não me sensibilizavam, porque algum olhar há de me tocar e me sensibilizar para alguma coisa, já que são tantos os olhares. Eu gosto muito do conceito de "beta", que a tecnologia nos trouxe. Ser beta é estar em constante evolução, é não ter o compromisso de estar pronto e acabado. Hoje empresas colocam no mercado sowftwares que são assumidamente beta. Num certo sentido, tira um pouco a responsabilidade do fabricante em entregar um produto sem erros. Mas, por outro lado, permite que os próprios consumidores ajudem a encontrar os defeitos e contribuir para a evolução do produto.

ALTEREGO: Você também entrega produtos que não estão prontos?
REIFF: Completamente. Muitas vezes publico algo e altero posteriormente. A internet fez os textos ficarem ainda mais vivos, porque se movimentam, se movem.
As vezes eu acho que uma coisa pode melhorar. Outras vezes, não. Acredito em coisas que merecem não ser mudadas. Mas acredito também em se fazer novas versões, em paralelo.

ALTEREGO: Eu disse que não tomaria muito tempo na entrevista de hoje. Obrigado mais uma vez por sua disponibilidade. Sei que você está atrasado para um compromisso.
REIFF: Gosto muito desse assunto. Vamos voltar a falar nele. Agradeço a você, mais uma vez pela oportunidade. Até a próxima.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

TER O QUE DIZER

ALTEREGO: Você vive dizendo que o importante é ter o que dizer. O que você tem a dizer sobre isso?
REIFF: Isso é tudo o que eu tinha a dizer. (risos)

ALTEREGO: Quem, pra você, tem o que dizer?
REIFF: Sempre que eu me deixo tocar por alguma obra artística, sinto que aquela pessoa tem o que dizer. Ou pelo menos para mim ela teve o que dizer. Ter o que dizer é sentir a necessidade de se expressar, uma necessidade tão arrebatadora, que o resultado é forte, tocante, tem personalidade.

ALTEREGO: Então só artistas têm o que dizer?
REIFF: Pra mim, artista é aquele que tem o que dizer. E ter o que dizer é ser honesto com a sua experiência. É ver algo de sagrado na sua verdade.

ALTEREGO: O que é arte pra você?
REIFF: É algo que me desperta algum tipo de consciência mágica. Tem pessoas que podem lavar louça com arte. Com um tal gral de presença e de entrega, que quem veja saia tocado dessa observação.

ALTEREGO: Você não está ampliando demais os horizontes do que possa ser considerado arte?
REIFF: Acho que o mundo precisa cada vez menos de rótulos. As pessoas são convidadas a se expressar. Aí ficam seguindo modelos, até que finalmente encontram essa sua vontade genuína de dizer alguma coisa. Nesse momento elas se transformam em artistas.