quarta-feira, 29 de abril de 2009

VIDA INTELIGENTE

MORFINO: É sua a frase "Existe vida inteligente no planeta, a gente só precisa saber onde está." Depois você lançou um site o qual você autoproclama de "humor inteligente". Onde está a inteligência?
REIFF: Existe vida inteligente no planeta e a cada dia eu me surpreendo com isso. Ando muito feliz com uma repentina tomada de consciência nas mais diversas áreas. Não sei se é por conta do mundo se falar mais. Ou é por conta dessa perturbação toda no clima. Pela derrocada dos modelos tradicionais. Está rolando um despertar geral.
Gente fazendo coleta seletiva. Meu filho de 3 anos um dia me disse "Não gasta água da torneira, papai."
Inteligente é aquilo que foge do óbvio, de tão óbvio.

MORFINO: Inteligência pra você seria um sinônimo de consicência ecológica?
REIFF: Não só. Inteligência é respeitar as particularidades de cada questão. Mecanizar é criar estereótipos. Viver inteligentemente é valorizar as diferenças.
Vejo pessoas simples fazendo arte de excelente qualidade. A internet tem dado uma extraordinária contribuição pra essa visão holística do mundo. A gente vê de tudo. E nem precisa viajar pelo mundo afora, como se fazia antigamente.


MORFINO: E como é um "humor inteligente"?
REIFF: É algo que não é oferecido pronto, acabado. Não segue um modelão. Não é feito em série. Pret a porter. Ele não prescinde do leitor para o resultado final. Uns riem, outros nem sabem que era pra rir. Não tem nada escancarado. Não tem truques, formulinhas. Tem o frescor da vida. E é por isso que pode encantar, antes do que fazer rir.

O MULTIFACETADO OLHAR DIGITAL

MORFINO: Dizem que o homem vive uma falsa sensação de proximidade, trocando a vida presencial pela tela do computador. A internet nos faz melhores ou piores?
REIFF: Depende. É possível que privilegie o contato virtual, em detrimento de um abraço, que é tão gostoso, por exemplo. Mas eu acho que de uma forma geral nós estamos mais próximos. Temos informações dos nossos amigos o tempo todo, ainda que não falemos com eles. Fazemos amizades que nunca faríamos, a não ser pelo intermédio da rede. Eu acho que me tornei um ser humano melhor com a rede. Pra começo de conversa, o ser humano só é feliz fazendo o que efetivamente gosta. E muito antes que eu pudesse levar o humor para os palcos, eu me realizava blogando, encontrando a minha tribo. Eu sou suspreito pra falar da internet, porque ela me fascina.

MORFINO: Em algum sentido específico ela nos faz piores?
REIFF: Quando perdemos um tempo precioso fazendo triagem de informações úteis num mar de informações inúteis. Espero que o futuro nos reserve caixas de e-mails menos cheias de spams, por exemplo.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

INTERNET

MORFINO: A internet tem ocupado cada vez mais espaço na vida da gente. Como você vê a internet e as transformações sociais?
REIFF: Acho que todas as nossas percepções de mundo foram alteradas. Mudou a nossa nossa maneira de pensar e de existir. Cada pequena conquista da rede, desde o começo, teve um sabor e um significado especial pra cada um de nós...Eu me lembro que quando a internet surgiu, uma imagem levava um tempão pra ser baixada. E vinha linha por linha, como uma máquina de tecer. Na tela do computador, a mulher ia ficando nua aos pouquinhos. Tinha o sabor de um streep tease. Hoje o sabor é o de baixar várias mulheres ao mesmo tempo. É o sabor de uma suruba (risos).

MORFINO: Pra você o grande apelo da internet é sexual?
REIFF: Diversas estatísticas já mostraram que uma extraordinária maioria dos internautas navegam pelo interesse sexual. Até porque tudo na vida, no fundo, tem um interesse sexual, segundo Freud. Mas eu não posso deixar de dizer que me encantei quando descobri que não precisava mais comprar revistas de mulher pelada.
Embora a porta de entrada de muitos na rede possa ter sido o sexo, aos poucos as pessoas vão sendo seduzidas por outras coisas. Eu me deixei seduzir pelos textos, pelo compartilhamento de idéias, pelas oportunidades de expressão e de exposição de talentos, pelos vídeos. O Youtube trouxe vem concretizando o velho sonho de democratização da mídia, onde os jogos de interesses não possam mais filtrar o que deve ser consumido. Cada um agora pode consumir o que quiser. E se um trabalho for bom, certamente encontrará sua tribo.

MORFINO: Como foi e tem sido a sua relação com a internet?
REIFF: Eu era um garoto quando participei da criação de uma das primeiras BBS. Eu fazia o texto dos folhetos de divulgação. A BBS, pra nós, foi a primeira noção de rede. Eram apenas muitos computadores ligados a um provedor, por telefone. Isso pra mim já era o máximo: compartilhamento de informações online. Quando surgiu o blog, eu descobri duas coisas extraordinárias: primeiro, a custo zero eu poderia ser o editor e o redator das minhas idéias; segundo: com elas eu encontraria minha tribo.
Mas blogar pra mim ajudou a encontrar a minha linguagem e a identificar o que é que eu queria dizer. No começo, eu fazia um boteco virtual. Tinham personagens. As pessoas deixavam mensagens que eu transformava em estórias que se passavam nesse boteco virtual. Hoje eu faço textos curtos. Rápidos como a rede. Mas com algum tipo de força. Pra mexer com os outros, antes esses textos têm que mexer comigo.

MORFINO:Você também usa o podcast como mídia?
REIFF:Já usei muito. Enquanto ensaiava pra tomar coragem de subir no palco, resolvi das vida aos meus textos em episódios em audio. Foi um exercício muito interessante. Criei programetes de rádio, com duração média de um minuto, cada vez falando de um tema diferente. Fiz uma vinheta de abertura, que também era trilha incidental, além de uma vinheta de fechamento. O canal se chamava O Morfino, brincando com a idéia de Humor Fino e, ao mesmo tempo, se apropriando desse tom meio marginal que a palavra nos dá. Também publiquei alguns episódios com metalinguagem, explorando o canal direito e o esquerdo do audio, buscando sugerir um diálogo interno na cabeça do autor, que também seria sugestivo na cabeça do ouvinte.
Hoje tenho publicado pouca coisa em podcast. Mas me interessa experimentar fazer programas de bate-papo, reunindo pessoas interessantes. Sempre gostei muito desse modelo, embora as boas referências não sejam muitas.

MORFINO: Essa diversidade de linguagens você também explora nos seus vídeos no Youtube. Existe um afunilamento ou uma constante expansão nas possibilidades de linguagens?
REIFF: Existem as duas coisas. Há um afunilamento no sentido de que vou sabendo o que é que eu gosto mais de fazer. Por outro lado, não perco a oportunidade de experimentar novas linguagens, porque posso me surpreender com os resultados.
Eu tenho vídeos como comediante stand-up que têm 250.000 visitas. São vídeos que eu não gosto muito. Acho que fui ousado ao publicá-los na época. Mas mantenho por valor histórico. Ainda não vejo o vídeo como o melhor aproveitamento da comédia stand-up, embora tenha vídeos ótimos no gênero. Achei que o mesmo olhar do comediante poderia ser trazido para o vídeo de uma outra forma, considerando que não há uma platéia, a dispersividade de um bar, a sensação de improvisação, enfim...Na televisão a linguagem merece ser adaptada. Investiguei algo mais orgânico, fazendo entrevistas. Fiz vídeos mais coloquiais, explorando apenas o meu olhar como observador sobre questões cotidianas. Estudei uma linguagem diferenciada, mais pontuada, menos naturalista, na composição dos vídeos da série Idéias no Chuveiro. Estou sempre investigando. Gosto de ouvir feedback das pessoas. Também acho o máximo ver coisas que estão sendo feitas por aí. De repente todos nós ficamos com aqueles olhos de mosca, multifacetados.

MORFINO: Você sugere que a maior contribuição da internet seja essa multiplicidade de visões que a gente pode ter sobre as coisas?
REIFF: Não sei se é a maior. É uma das grandes. A cultura dos hiperlinks trouxe a possibilidade das pessoas navegarem pelas informações, porque a necessidade de cada um de nós é diferente. A busca pela informação deixou de ser um processo unívoco para ser biunívoco. Você constrói a informação junto com a fonte. Isso altera muito a forma do homem pensar. Começamos a entender que podemos cortar os excessos e ficar só com o que é essencial para nós.