sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O QUE É BOM FALA POR SI

ALTEREGO: Quem é engraçado pra você?
REIFF: Qualquer um que esteja sendo autêntico, que se expresse de forma verdadeira. Quando estamos assim, somos naturalmente carismáticos, envolventes e engraçados.
O problema é que passamos o tempo todo tentando ser diferente do que somos. E perdemos exatamente o que temos de melhor, que é a nossa capacidade de fluir, de sermos genuinamente espirituosos.

ALTEREGO: O que fazer então?
REIFF: Observar. Aos poucos podemos perceber que damos uma volta enorme pra chegarmos a um lugar de onde nem precisaríamos ter saído.

ALTEREGO: Como assim?
REIFF: Vivemos buscando modelos e nos esforçamos para nos encaixarmos nesses modelos. Vai aí uma extraordinária energia. Quando conseguimos representar bem o papel, também nos sentimos impostores, porque sabemos que, no fundo não somos aquilo.
Gosto muito do humor que se apóia na improvisação. A magia da vida está em fluir. Tudo que acontece com esse grau de presença, de disponibilidade, de entrega, produz um encantamento. Ninguém suporta mais as coisas artificiais. As fórmulas. A manipulação. A diversidade está em alta. Não temos que ser iguais. Isso é muito chato.

ALTEREGO: Você acha que o seu humor reflete isso?
REIFF: A intenção é a de que reflita, cada vez mais. Eu sempre fui daqueles caras críticos, exigentes, muitas vezes inflexível. Agora estou aprendendo a fluir. A me divertir com a minha incompetência e me encantar também com a a poesia que encontro nessa minha ingenuidade. Tentando acertar, eu só errei. Não tendo medo de errar, eu percebo que começo a acertar.

ALTEREGO: Quer dizer que você está dispensando a elaboração artística?
REIFF: Não sei. Tive que elaborar muita coisa pra chegar nesse estágio mais "naif". Não é fácil a gente abrir mão do controle, dar a cara a tapa, ousar ser verdadeiro.
Quando atinge essa forma essencial, a arte ganha um poder atômico. Acho que a gente gasta muito tempo querendo aparecer, garantir um espaço e coisa e tal, quando deveríamos mais buscar essa condição essencial. Daí flui uma arte vigorosa, contagiante, reverberante. Normalmente temos pouco a dizer, por isso a repercussão da nossa arte é tão pontual. Tem um ditado na Índia que diz que quando o discípulo está preparado o mestre aparece. Tudo acontece na hora certa. A colheita só é proveitosa se for feita no momento certo.

HUMOR ECOLÓGICO

ALTEREGO: A essa nossa pequena entrevista, você deu o nome de "humor ecológico". O que você quer dizer com isso?
REIFF: Humor ecológico é um tipo de interferência humorística que não atropela, não se impõe de forma grosseira. É aquele humor apropriado a cada momento, porque não se estabelece sem considerar o seu meio em que se desenvolve. É um tipo de humor que se disponibiliza àqueles que quiserem usufruir dele, mas que não força a barra. Hoje tenho visto muitas vertentes de humor pouco ecológicas. O cara que conta piada num meio em que as pessoas estão querendo apenas conversar, por exemplo, não está sendo ecológico.

ALTEREGO: Mas a função do humor não é mexer, cutucar, destruir padrões?
REIFF: É. Mas Gandhi também fazia uma revolução silenciosa, ecológica. E a Índia ganhou sua independência, sem agressão. Não acho que o humor precise agredir. Já disse antes que o humor e o amor, pra mim, estão muito interligados.

ALTEREGO: Isso reflete uma falta de coragem?
REIFF: Acredito que não. Sermos fiéis aos nossos princípios é um ato de coragem. Cada vez mais vou me deixando seduzir por coisas que não encontrem eco no meu coração. Faço humor pra encontrar o que pode haver de melhor em mim mesmo. Porque é isso que pode inspirar o outro a ver a vida com mais sensibilidade. Não tenho uma missão messiânica. Não quero mudar ninguém, embora me sinta muito feliz quando alquém se sensibiliza com a minha arte. Porque nós somos aquilo que contribuímos.

ALTEREGO: Como você acha que tem contribuído?
REIFF: Acho que tenho contribuído disponibilizando a minha verdade, cada vez mais.
Cada um de nós é profundamente contributivo, sem ter que se esforçar pra isso. A vida se enriquece com essa diversidade. Cada vez que vejo alguém agir de uma forma diferente, amplio minha percepção sobre a vida. Cada pessoa já é, como é, uma extraordinária contribuição.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

HUMOR ESSENCIAL

ALTEREGO: O humor tem muitas linguagens. O que existiria em comum entre todas essas linguagens, que a gente pudesse chamar de essência do humor?

REIFF: O humor, pra mim, é algo que enleva o espírito. É assim que eu o vejo, e não quer dizer que essa seja a verdade, até porque não acredito que exista uma verdade. Mas pra mim o humor é algo que me toca a alma, assim como a poesia e as artes em geral. Acho que o humor tem que romper padrões, surpreender, encantar as pessoas, que já estão cansadas do óbvio.

ALTEREGO: E o que você acha que não é humor?
REIFF: Clichês em geral. Se a função da arte é romper paradigmas, não existe nada tão sem arte quanto o clichê, a fórmula pronta, a receita. Isso é uma chatisse atmosférica. Tem muito artista que não ousa pensar, e nem mesmo sentir. A criatividade é um ato de ousadia, de fluência, de transcendência, de vitalidade. O artista tem que correr riscos, fazer uma coisa viceral. Sem isso fica uma arte morta, sem vibração. A arte é uma expressão da vida que pulsa no artista. Se não tem vida, não tem arte.

ALTEREGO: O que é um clichê?
REIFF: Até mesmo falar sobre clichês é um clichê. É um pensamento padrão, um jeito comum de ver as coisas, uma formula desgastada de se atingir um objetivo, um tipo de manipulação. O bom humor tem frescor. O novo pode ser feito de cacos do velho. Mas não adianta dizer o que todo mundo diz, e da maneira com que todo mundo diz. Isso é clichê.

ALTEREGO: Você sugere que o humor inspire uma transcendência?
REIFF: Perfeitamente. Quando eu desconstruo padrões estabelecidos, eu liberto a imaginação das pessoas. Isso é mágico. Produz um encantamento, uma estranha sensação de felicidade. E é por isso que eu vejo o humor como um processo alquímico. Uma expansão de consciência que se dá por osmose, por assim dizer.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ARTE E LOUCURA

ALTEREGO: Muita gente acha que você tem um pino a menos na cabeça. Ou a mais. Você se acha louco?
REIFF: O louco não se acha louco. Ele acha que loucos são os outros. Eu me acho muito é são. Até demais. Acho que a pergunta deveria ser "Você é feliz?"

ALTEREGO: Você é feliz?
REIFF: Muito. E com todos os perrengues que a vida também nos dá. Mas eu sou cada vez mais feliz. Faço a minha arte sem preocupação de agradar. Vou deixando os apegos e me apegando aos amigos. Puxa, gostei dessa frase. Vou colocar no blog.

ALTEREGO: O que é felicidade?
REIFF: Acho que é o prazer de viver. O prazer de estar na vida pra valer. Sair da arquibancada e entrar na quadra pra jogar. Eu sou feliz porque vivo cada vez mais assim. Mais vivo.

ALTEREGO: Muita gente acha que você dá tiro pra todos os lados. É assim que você se sente? Um franco atirador?
REIFF: Putzk. Não. Eu acho que sou uma espécie de antena. Eu vejo milhões de coisas passarem pela minha cabeça. E eu as trago pra vida exterior.

ALTEREGO: Você é médium, ou algo assim?
REIFF: Não. Não sei. Não tenho nenhuma autoridade pra falar sobre esse assunto. Só sei que vivo torrentes emocionais que passam por mim e deixam coisas. Pode ser essa a minha loucura. Mas confesso que gosto muito de viver essa loucura.