quarta-feira, 22 de outubro de 2008

ARTES, RELIGIÕES E BLÁS

ALTEREGO: Quando começou a sua paixão pela arte?
REIFF: Eu faço arte desde pequeno. Só que hoje eu ganho mais do que puxões de orelha.
Arte é qualquer coisa que me sensibiliza e me convida a recriar percepções. A função imediata da arte é satisfazer uma necessidade do artista em dar à luz. Quando o artista bota algo no mundo, ele se descobre naquilo que criou.

ALTEREGO: Você vê uma função mística na arte?
REIFF: Embora a arte não seja feita com esse propósito, ela é permeada de consciência, que gera lucidez, que gera aceitação, que gera compaixão, que gera amor.
Quando uma obra de arte nos fala ao coração, ela nos abre para a percepção do outro. Estar presente para a viagem do outro é que nos tira da nossa viagem, da nossa mente, do nosso ego. A arte proporciona experiências muito próximas ao Zen Budismo.

ALTEREGO: Você é religioso?
REIFF: Já estudei muito a religiosidade humana. Sou apaixonado pelo trabalho do Campbell, explorando o mito. A religião é um acervo mitológico. E todos os mitos são derivações de arquétipos. Assim, todas as religiões são iguais em sua essência arquetípica. Em outras palavras, a água pode virar gelo nos mais diversos formatos. Uma vez derretida a forma, tudo é água.

ALTEREGO: Mas você já esteve ligado ao Zen Budismo, como mencionou?
REIFF: O zen budismo é a corrente filosófica do budismo. Ela não é mágica. É racional, portanto é passível de experimentação. Observando as percepções tão diferentes das pessoas sobre as coisas, percebo que a minha verdade é relativa. Percebo que a minha mente experimenta idéias, com as quais me identifico. A importância que normalmente damos ao Ego vai se corroendo, o que nos permite, aí sim, viver a experiência mágica da unidade, da fluência. Como sempre gostei de filosofia, acabo puxando a sardinha pro Zen Budismo, pro Taoismo, pro trabalho do Osho. Gosto dessa coisa experimental, proporcionada pela Meditação Transcendental, pelo Yoga, pelo T'ai Chi Chuan...Eu não tenho que acreditar em Deus, mas se eu me deixar fluir, vou acabar sentindo Deus, ou melhor, a consciência da unidade.

ALTEREGO: O que é essa tal consciência da unidade?
REIFF: É aquela questão da água que vira gelo. Quando a gente se vê derreter - e isso às vezes dói, veja o caso das bolsas - a gente começa a voltar à essência. E começa a se sentir ligado a tudo que está a nossa volta. É um tipo de compaixão, de disponibilidade, de presença. As coisas começam a te importar. A tal ponto que você se vê fluindo. O lado mágico acaba aparecendo naturalmente. Você pensa em alguém, a pessoa liga. Você precisa de recursos, eles aparecem. O medo da morte vai ficando cada vez menor. Morte é só um reflexo da ilusão de separatividade. Quando você já se percebe fluindo, a morte também é fluência.

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