ALTEREGO: Além de escrever, você faz humor stand-up, no qual o humorista está só no palco. Você já fez humor em grupo?
REIFF: Eu gosto dessa idéia de humor grupal (risos) . Quando eu era pequeno, me encantava com o Gordo e o Magro, Os Três Patetas, os Trapalhões, I love Lucy, Tom e Jerry...Sempre gostei de escrever diálogos e pensar em situações hilariantes dos relacionamentos. Pra mim, a parte mais frustrante do stand-up é um certo individualismo. Os humoristas se aglutinam virtualmente, formando um show. Mas a história de se jogar junto é muito legal. E é difícil: fazer humor em equipe requer muito timing. É importante que os artistas estejam sintonizados. E que se curtam. Aí pode ser mágico.
ALTEREGO: Quer dizer que você não acredita num trabalho grupal onde os humoristas não se biquem?
REIFF: No Stones, o Keith Richards e o Mick Jagger não se bicam muito, mas fazem um trabalho integrado, graças a um esforço em busca do profissionalismo. Mas em termos de humor, eu acho isso muito difícil. Fazer humor é como fazer amor: você precisa estar numa sintonia, pra que a coisa fique realmente boa. Precisa respeitar cada passo do outro, para que a dança seja fluida, perfeita. Quando rola ego, ficam os dois numa viagem individual e a mágica do encontro não acontece. Acho que é a platéia se encanta é com a dança, a sintonia perfeita, porque isso toca em um arquétipo, que é a possibilidade de que somos um e que toda dualidade é ilusória. No fundo, nós sabemos disso, mas temos que ser lembrados pela arte.
ALTEREGO: Então o trabalho em equipe é mágico?
REIFF: Exatamente. Eu acho mágico o trabalho do Jogando no Quintal, que conheço desde quando éramos apenas 20 espectadores num quintal. Assim como gosto muito do trabalho de improvisação, de uma forma geral, porque acho que é uma coisa que faz mágica. Quando se está num espaço de disponibilidade, de aceitação, de leveza, qualquer parada na vida ganha esse grau de magia. Dançar com as circunstâncias é a maior sabedoria. Sábio é aquele que não se opõe. Mas que se dispõe.
ALTEREGO: Você sempre gostou de trabalhar em equipe?
REIFF: Não, eu sempre fui muito ermitão. Foi muito recentemente que eu comecei a acordar para essa coisa de trabalho em equipe. E acordar pra essa coisa de viver em relação com o outro. Os artistas pagam um preço alto por passarem muito tempo em seus planetas pessoais.
ALTEREGO: O que você tem ganhado com essa mudança?
REIFF: Muita coisa. Primeiro, porque eu atenuo a força do meu ego. É ótimo ver pessoas talentosas e gostar do trabalho delas. Dá uma espécie de alívio. Porque senão a gente fica numa paranóia de ter que mudar o mundo, contribuir e coisa e tal.
Quando a gente vê outras pessoas talentosas, a gente acha que a vida pode ser gasta de forma muito mais natural. Porque tem muita gente talentosa por aí. E o que faz nossos horizontes se alargarem é a possibilidade de experimentar todas essas outras possibilidades de vida que estão à nossa volta.
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