sexta-feira, 30 de maio de 2014

REIFF: Se você fosse imortal, qual seria a sua falha imperdoável?
MORFINO: Só existe imortalidade para as ideias. E toda ideia, em si, é falha.
REIFF: A falibilidade integra o DNA da ideia de ideia?
MORFINO: É uma boa ilustração.  A ideia é falha ou falível porque não existe infalibilidade no plano do silêncio. Quando aparece uma ideia no mar de calma é sinal de que brotou vida ali. E vida é o desafio de superar falhas.
REIFF: Você acha que o mundo ideal seria em silêncio?
MORFINO: O silêncio é um bom preâmbulo para a quebra dele. Valoriza o que vem depois. A humanidade hoje passa por um processo de gritaria coletiva, onde ninguém mais se escuta. Está todo mundo querendo ser curtido mais do que curtir. 
REIFF: Muito show pra pouco espectador?
MORFINO: Sim. Um processo natural de descoberta. As pessoas estão se descobrindo com tantas ferramentas para exercitarem a sua criatividade. 
REIFF: Qualquer um hoje cria coisas legais até sem querer. Você acha que o computador nos trouxe a possibilidade de interlocução com o acaso?
MORFINO: Gostei dessa "interlocução com o acaso?" Isso é seu mesmo?
REIFF: (risos). Mas não é? O computador nos dá infinitas variáveis de interferência à nossa ideia. As experimentações randômicas nessa relação geram soluções inovadoras, instigantes... Eu gosto de bater fotos sem ter controle sobre o conteúdo. Aponto a máquina e bato. Ela me dá enquadramentos inusitados. Que eu não escolheria com base na minha "experiência".
MORFINO: O ser humano está experimentando o prazer desses acasos como se fossem mágicos, simplesmente porque isso os chama para a magia que rege todo acaso.
REIFF: Todo acaso é sábio?
MORFINO: A sabedoria é olhar para o que está acontecendo. Por ser inédita, essa química é mágica.
Encanta. Pessoas relaxadas ficam extremamente espirituosas. Porque podem ver o que está à sua frente e não o seu medo paralisante. A necessidade de acertarmos nos desequilibra. É como se tivéssemos que andar numa corda bamba carregando um monte de gente nas costas. A brincadeira é relaxar.
REIFF: E ser mais criativo...
MORFINO: E se divertir mais como o que aparece...Eu crio pra mim que o acaso é mágico, que é nele que está a pedra filosofal. Isso me ajuda a aceitar de pronto qualquer coisa que aconteça. 

AVARANDADO

Márcio Reiff vai até a casa do filósofo Morfino.

Ambos tomam lugar à sombra do avarandado, com uma caneca de chá de hortelã cada um.
 
A tarde de maio não tem nuvens. Uma brisa suave inspira alguns minutos de silêncio. 

Morfino derrama um pouco de chá sobre o piso avermelhado e observa as formigas se alvoroçando no entorno. 


terça-feira, 6 de maio de 2014

MORFINO e MARCIO se abraçam, como se não tivessem se cruzado no camarim. 
Ambos se sentam para responder as perguntas do público:



MÁRCIO: "Morfino, como é ser um palhaço que não ri"?
MORFINO: Pergunta pro Márcio.
MARCIO: O palhaço não foi feito pra rir. Ele nunca tem motivos pra rir. A platéia é quem deve ter.
MORFINO: Por que você ri pouco
MARCIO: Por não encontrar bons motivos para rir mais.
MARCIO: Você se sente um personagem idealizado?
MORFINO: E quem não é

Intervalos comerciais. Pule essa parte e vá logo para a entrevista seguinte. 

sábado, 3 de maio de 2014


FALANDO COM BOTÕES Os encontros podem ser rápidos. Sempre dialogados. Ilustrando o nosso baião de dois diário. As vozes que falam em nossas cabeças. 


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