terça-feira, 27 de janeiro de 2009

CRIATIVIDADE

MORFINO: Você acha que a excassez de recursos inspira a criatividade?
REIFF: Totalmente. Na época de estudante, eu morava em república e a gente cozinhava com o que tinha em casa. Não tem farinha de trigo, vamos ver o que rola se botarmos a de mandioca. Não tem vinho branco, vamos colocar um pouco desse vinagre branco. Acabavam surgindo soluções surpreendentemente interessantes.
Quem tem tudo na mão não descobre novas possibilidades. Usa as que tem. Errar é sempre um bom jeito de descobrir novas soluções. Descobri enquadramentos inusitados de câmera filmando a mim mesmo com câmera digital. Se eu tivesse pudesse acompanhar o enquadramento, talvez tivesse dado soluções mais óbvias. Quando menos recursos dispomos, mas criativos nos tornamos.

MORFINO: Eu estaria certo dizendo que a criatividade tem a ver com a disponibilidade.
REIFF: Eu nunca tinha pensado nessa correlação, mas ela é muito boa. A gente tem que ter um olhar desapegado sobre tudo. Recursos não faltam. Falta a nossa predisposição em encontrá-los.

sábado, 24 de janeiro de 2009

TRABALHO DE GRUPO

ALTEREGO: Você prefere trabalhar sozinho ou trabalhar em grupo?
REIFF: Depende. Eu sempre trabalhei muito sozinho porque sou movido pela ansiedade. Quero ver coisas acontecerem e não tenho recursos. Mas também às vezes eu quero ter uma coisa mais elaborada, antes de submeter a um processo grupal. Mas o fato é que eu tenho cada vez mais sentido necessidade de trabalhar em grupo. Em grupo, as idéias crescem e a gente também.

ALTEREGO: Você já trabalhou em grupo?
REIFF:Sim, mas em momentos que eu não tinha essa consciência sobre a mágica do trabalho em grupo. Sempre fui muito viajandão, o que atrapalhava muito o trabalho em equipe. Mas tenho cada vez mais descoberto esse prazer que é viajar na viagem do outro. Apreciando a diversidade a gente flui, se enriquece e se renova o tempo todo.


ALTEREGO: Uma vez você disse que trabalhava sozinho porque a arte tem um sentido de urgência. Como é se equalizar do timing de um grupo.
REIFF: Tudo é uma questão troca. Perde-se um pouco no timing, mas ganha-se na maturação. A gente perde o controle para descobrir que existem coisas muito interessantes além daquilo que a gente julgava ideal. Gosto de meter as caras nas mais diversas áreas que envolvem uma elaboração artística, mas pretendo cada vez mais trabalhar ao lado de especialistas, com quem eu tenha identificação. Um grupo afinado dá uma outra dimensão a qualquer proposta. Acho muito bom quando a gênese do conteúdo traz a contribuição de técnicos e profissionais que normalmente são pensados como operacionalizadores apenas. Hoje em dia ninguém mais quer só apertar parafuso. Todo mundo quer fazer da sua atividade uma forma de auto-expressão e de transcendência.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ENCONTROS

ALTEREGO: Por que entrevistas?
REIFF: Porque sou um apaixonado por entevistas, por talk show. Quando menino, varava noites assistindo ao Comando da Madrugada, com o Goulart de Andrade. Gosto de entrar na intimidade das vidas, degustar todo o sabor que existe ali. Também me apaixonei pelos diálogos do Campbell com Bill Moyers, na série O Poder do Mito. Gosto de diálogos, de conversas, dos roteiros de sitcom. Gostava de ver Letterman, Jay Leno, Provocações, Saia Justa...
Além disso, quando se dá uma entrevista, se para pra pensar. Quando a gente para, as idéias nos alcançam.

ALTEREGO: Qual a correlação que você vê entre as entrevistas e um roteiro de sitcom?
REIFF: Uma boa entrevista é um bom texto. Um texto construído a dois. Tem um movimento, uma fluência, tem vida. O bom texto de sitcom também. Ambos nos deixam apaixonados pela vida dos outros. E isso tem um valor mágico. É quase uma meditação budista.

ALTEREGO: Você faz terapia?
REIFF: Sim. Toda vez que escrevo (risos). Já fiz muita terapia. Hoje eu escrevo. Quando escrevo uma frase e apago correndo, vejo o meu superego como poucos terapeutas me fizeram enxergar. Eu digo que quando eu escrevo eu me vomito desde a alma e me descubro no que vejo.