quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A BUSCA COMO FIM

ALTEREGO: Onde você quer chegar?
REIFF: Não sei. Eu sei onde eu não quero chegar. Já é alguma coisa. É como descascar uma cebola infinita. A gente vai tirando camada e vem outra, e outra. De repente, o grande barato é esse mesmo. A natureza não quer chegar em lugar nenhum. Só quer continuar existindo.

ALTEREGO: Você é engajado em causas ecológicas?
REIFF: Depende. Eu não faço parte do Green Peace e de nenhuma ONG relacionada à preservação ambiental. Mas eu vislumbro relações mais ecológicas em tudo. Relações mais generosas e fluidas entre as pessoas, que certamente inspirarão relações mais ecológicas com a natureza. Acho que o que falta é um pouco de poesia, de humor, de aceitação.

ALTEREGO: O humor não é exatamente a não aceitação?
REIFF: Sim e não, como diria o Celso Lafer que foi meu professor, do que eu me orgulho muito, porque suas aulas de filosofia me ajudaram a entender o mundo de um jeito mais elegante. Bem, o humor é sempre uma quebra de paradigmas, um "pensamento lateral", que também é a origem da criatividade e de muitas outras coisas. No sentido de ousadia para se ter um olhar diferenciado, o humor expressa a não aceitação. Mas o humor também é a possibilidade de aceitação de tudo que vem, fugindo ao tradicional, ao esperado. Casa percepção nova que se tem sobre as coisas nos faz intuir que o universo é pródigo, generoso, fluido. Isso pra mim é divino.

ALTEREGO: Qual é a sua visão de Deus?
REIFF: Acho que a palavra Deus ficou tão estigmatizada, que na minha percepção de religião ela nem é necessária. Eu sou um cara que confio na existência. É isso. Sinto uma sofisticada trama subjacente a tudo que rola.

ALTEREGO: Então você acha que está tudo escrito?
REIFF: Sim e não. No sentido de que nada acontece por acaso, sim. Entretanto eu acredito que essas determinações acontecem no frescor de cada momento. Estamos todos criando essa trama, mesmo sem termos consciência disso.

ALTEREGO: Qual é a sua contribuição?
REIFF: Eu quero ser cada dia mais consciente e feliz. A felicidade é um efeito da consciência. Quando você começa a ser perceptivo, começa a perceber o discurso das coisas, a cada momento.
Sendo feliz, cobrarei menos das pessoas com quem convivo. Posso ter relações mais ecológicas com elas, respeitando seus movimentos. A palavra hoje é diversidade. Eu ando encantado com a diversidade. É isso que deixa a vida cheia de surpresas.

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