terça-feira, 6 de março de 2012

OS PAPÉIS SE INVERTEM

É final de tarde de outono. O cenário praiano é um convite à filosofia.
O filósofo Morfino Pereira está com o cronista Márcio Reiff, dividindo uma cervejinha gelada e conversando sobre a vida.  


REIFF:  Se você estivesse aqui no meu lugar agora, Morfino, com que pergunta você abriria uma entrevista com Morfino?
MORFINO: Com essa que você acabou de fazer.
REIFF: E o que você responderia?
MORFINO: Que inventar perguntas é uma tarefa do entrevistador...
REIFF: Então eu vou fazer uma pergunta que sempre me inquietou sobre você. Como surgiu esse nome?
MORFINO: Na época da faculdade de filosofia, eu assinava uma coluna no jornal com esse nome. Nessa coluna eu entrevistava pessoas que faziam "humor fino", então a coluna ficou  O Morfino.
REIFF: E todo mundo concordava com a escolha dos entrevistados?
MORFINO: Ninguém precisava saber que esse era o critério. As entrevistas eram ótimas, porque eram papos descontraídos...as pessoas em geral, quando estão num ambiente de confiança, deixam escapar pérolas de "humor fino"...
REIFF: E o que é esse ambiente de confiança?
MORFINO: Todo mundo sabia que a graça da minha coluna era esse clima informal, à vontade. A ideia sempre foi a de um bate-papo entre amigos. Os entrevistados se sentiam confortáveis.
REIFF: Você acha que esse é o segredo de um boa entrevista?
MORFINO: Um dos segredos...certamente...As pessoas estão cansadas de coisas muito arranjadas...querem o sabor da verdade...da naturalidade. Qualquer bate-papo desarmado é interessante. Quando a gente sai da defensiva, pode escutar o outro e aí começa o papo ter química.
REIFF: Você sempre fez um trabalho alternativo, usando o blog, depois o site, como a sua própria mídia. Como foi pra você ganhar esse prêmio na MTV?
MORFINO: Fiquei muito surpreso quando me disseram que eu havia sido um dos indicados. Eu nunca fiz nada pensando em ganhar prêmio...ou ganhar dinheiro. Acho que sempre tive um pouco de medo do sucesso. Quando revelaram o ganhador, eu fiquei mais surpreso ainda. Mas me senti confortável, por não ter preparado nenhum discuro.
Preparar o agradecimento de um prêmio deve ser uma coisa muito chata de fazer.

A entrevista se interrompe porque Morfino precisou sair às pressas: o seu cachorro havia engolido um celular.