segunda-feira, 17 de agosto de 2009

O HUMOR E O JAZZ

MORFINO: Woody Allen toca semanalmente seu clarinete numa banda de jazz. Luis Fernando Veríssimo toca sax. Tem feito até uns shows com os irmãos Caruso. Qual a relação que você vê entre o humor inteligente e o jazz?

REIFF: O jazz é inteligente porque não se apóia em coisas requentadas, assim como o humor inteligente. Eu acho que o jazz é um estado de espírito libertário, que acolhe a diversidade, e que traz o frescor da improvisação. Eu penso que em ambas as coisas se busca sair do óbvio.

MORFINO: Freud dizia que o humor promove a "economia psíquica", fazendo com que a psiqué estabeleça associações inusitadas, encurtando os tortuosos caminhos defensivos da mente. Assim, o humor teria uma função terapêutica, tanto quanto o sonho. Em outras palavras, o humor reduziria as resistências imposta pelo superego, permitindo que a energia psíquica encontre mais facilmente seus próprios caminhos. O jazz também teria uma função assim?

REIFF: O jazz está muito associado à improvisação, que se contrapõe às formas rígidas e acabadas. Eu não tenho dúvida de que a música, mais livre, proporciona algumas respostas emocionais interessantes para quem faz e para quem ouve. A sinergia entre os músicos também cria experiências mágicas. Acho que a própria vida disponibiliza esse encantamento, quando estamos perfeitamente sintonizados com o que está rolando, sem julgamentos e avaliações. Deixando o ego de lado, nós experimentamos um tipo de transcendência. O humor e o jazz, por proporcinarem um estado de fluência, produzem uma extraordinária resposta terapêutica, especialmente para os neuróticos e os reprimidos, como são boa parte desses humoristas que trabalham com o humor inteligente, entre os quais eu modestamente me incluo.