sexta-feira, 6 de junho de 2014

DE OLHOS ATENTOS SE VIVE MOMENTOS

MORFINO: Como é que você consegue escrever para 8 blogs diferentes, coisas diferentes?
REIFF: Fazer é o de menos. O importante é não parar de ver. E pra ver a gente precisa estar bem. Então eu preciso viver bem pra ser bom. E viver bem é ter tempo para ver coisas. Senão a gente só olha pra um mesmo lado, que são as tendências...
MORFINO: Escrever é fácil
REIFF: Sim. Eu adoro escrever. Especialmente sobre as coisas que ninguém vê.  Ou que estão pouco interessados...Só não se pode ter medo de errar. Porque não há como.
MORFINO: Você acredita no acaso?
REIFF: Criei pra mim que o acaso é mágico. E sempre encontro essa magia. Pode ser coisa de roteirista.

A VERDADE DA FOTO OU A EDIÇÃO QUE VALORIZA?

MORFINO: Em nosso último encontro, você falou sobre transformar o recorte fotográfico numa peça gráfica. Eu queria abrir com uma pergunta: Você edita as fotografias, para elas ficarem mais gráficas e menos fotográficas?
REIFF: Essa já foi uma dúvida cruel pra mim: mexo na foto ou preservo a graça de mostrar a imagem como ela é? Acho que as duas coisas são possíveis. Se mexo na foto, aumentando o seu contraste, ou saturando, desfocando, usando filtros muito simples...de repente posso ter um meio termo. O contraste pode me permitir manter a verdade fotográfica e me dar destaque a alguma coisa que acrescente...por exemplo, posso mostrar um contraste berrante entre uma azeitona e um prato branco.
MORFINO: Você pode ampliar essas imagens e transformar em painéis que lembrem um quadro cubista, por exemplo....
REIFF: Exato. Normalmente fotografamos coisas. Agora queremos fotografar quadros cubistas, que podem aparecer na nossa frente quando uma azeitona está num prato branco, num jogo americano vermelho e um palito de dente amarelo sobre ele. Se eu aumentar o contraste, essas coisas vão pular, vão gritar. 
Eu sou a favor do filtro simples. A verdade, que inclui a do nosso olhar que edita tudo. Se buscarmos um quadro renascentista, a janela da cozinha pode contribuir com o seu olhar...

ERA SÓ MACARRÃO

MORFINO: O que é exatamente esse "mago do olhar"?
REIFF: Todos nós somos magos do olhar, se deixarmos o nosso olhar inquieto nos levar para os detalhes que fazem cada experiência inédita.
MORFINO: E qual é o treino?
REIFF: O treino é nos permitirmos abrir de pensamentos e nos conectarmos com o que está ao nosso lado.
MORFINO: Como você faz isso?
REIFF: Eu procuro olhar para as coisas pequenas, as quais normalmente nos passam despercebidas.
MORFINO: Agora por exemplo...
REIFF: Veja a composição gráfica formada pela borda dessa mesa redonda e o vermelho do piso em segundo plano. Ninguém fotografaria um canto de mesa porque compõe com o piso, porque o nosso olhar está treinado para ver a mesa, para ver o piso, o para não ver nenhuma dessas coisas por estar pensando...
MORFINO: Essa é a proposta da coletânea "olhares tortos"?
REIFF: Perfeito. Tudo depende do enquadramento. E os nossos enquadramentos enriquecem o olhar dos outros na medida em que forem essencialmente nossos. Que se apropriem de detalhes que apenas nós estamos vendo. 
MORFINO: Você pode dar um exemplo?
REIFF: O exemplo falará mais do que as minhas palavras, certamente.