sexta-feira, 12 de setembro de 2008

ARTE SUSTENTÁVEL

ALTEREGO: O que você quer dizer com "arte sustentável"?
REIFF: A arte que não tem por objetivo acontecer, com essa urgência que o mundo atual impõe às pessoas. A arte sustentável vai buscar aspectos essenciais da questão humana, algo que não é fácil, porque temos uma profunda dificuldade de enxergar o simples. Claro que estou cunhando essa expressão na esteira de tudo que se diz "sustentável" e que expressa os ditames da tal "sustentabilidade". Mas nessa associação, busco valorizar a função da arte como um agente de conscientização, de construção de uma relação mais "ecológica" entre os seres humanos.

ALTEREGO: Na prática, como isso é possível?
REIFF: A internet criou um extraordinário espaço de expressão artística, ao mesmo tempo que gerou uma profunda ansiedade nas pessoas, que se viram na contingência de aproveitar urgentemente esse espaço dado. Esse senso de urgência é interessante porque leva as pessoas a quebrarem uma inércia e começarem a fazer algo, o que é ótimo, porque a arte é um processo de elaboração, que só pode acontecer a partir da experimentação. Entretanto, o desejo de ter um trabalho rapidamente reconhecido muitas vezes desmotiva artistas que estão em pleno processo de elaboração. Interessante também notar que o reconhecimento esperado se dê em números de visitas, por exemplo, quando talvez o que importe mais seja a qualidade dos visitantes.

ALTEREGO: O que qualifica os visitantes?
REIFF: Uma identificação com a linguagem artística disponibilizada. Cada vez mais vai acontecendo uma diversificação dos conteúdos, de forma que começam a se formar pequenos nichos de interesse. o importante é que cada artista encontre o seu público, que pode não ser grande, mas que deve ser fiel. Buscando agradar diversos públicos, a manifestação artística pode perder consistência e força. Com isso eu não quero dizer que algo que seja expressivo em termos numéricos não tenha força e qualidade. Mas acho importante levarmos em consideração que existem coisas de qualidade que não atraem um grande público, mas que atrairão, sim, um público específico, identificado com a linguagem.

ALTEREGO: Como essa teoria se expressa na sua arte?
REIFF: Houve um momento em que eu também sentia uma pressão para não "perder o bonde". Tinha um desejo de ter meu trabalho como artista reconhecido, até porque abri mão de uma pródiga carreira de publicitário para viver daquilo que eu considerava uma expressão artística mais genuína. Aos poucos eu tenho experimentado um prazer maior nos meios do que nos fins. Em outras palavras, já não estou tão preocupado com o número de visitas que um vídeo meu tenha. Mas me interesso pelo feedback do meu público, aprecio essa carpintaria, essa relação sinérgica entre artista, público e objeto artístico. No fundo, acho que o artista acaba construindo junto com seu público. Nessa relação eu vou experimentando uma sensação de transcendência. Saio do ego e vivo uma realidade arquetípica. Tenho me tornado um cara mais sensível e perceptivo, deixando de lado uma obsessão por dar certo. O que sempre dá certo é esse crescimento que a gente experimenta fazendo, trocando, se conscientizando. Quando as coisas estão prontas, elas acontecem. Acho que essa é uma lei indiscutível. Se algo ainda não aconteceu, não se preocupe. Continue fazendo o seu trabalho com amor, com verdade, com coragem e determinação. O que é bom é o que fica.

sábado, 6 de setembro de 2008

EGOS, VAIDADES E PERFUMARIAS

ALTEREGO: Um cara que dá uma autoentrevista só pode pensar que tem o rei na barriga. Você se acha?
REIFF: (risos)Não. Eu não me acho. Eu só me procuro. Tem uma frase que eu gosto muito: "Escrevo porque me vomito desde a alma, e me descubro no que vejo". É escrevendo que eu me encontro. E falando sobre valores, consigo identificar o que está por trás de todo o meu fazer artístico.
Tem outra frase minha que também se encaixa aqui: "Pra viver mais leve, eu tiro o rei da barriga".



ALTEREGO: Escrever é o que você acha que faz melhor?
REIFF: Não sei. Gosto escrever. Levo meus textos para o palco até que alguém os leve pra mim. O palco também é um desafio sedutor. Tem toda uma linguagem que não cabe na escrita.

ALTEREGO: Você se diz mímico e músico. Como é isso?
REIFF: Já fui muito apaixonado pela mímica. Eu era moleque e me apresentava no clube de Bebedouro, minha cidade natal. Fazia pequenas esquetes, no meio da boate. Era muito legal. Depois fui estudar com grandes mímicos no SESC, o Claudio Coutinho e a Helena Figueira. Também fiz curso com o Fernando Vieira. Acho a mímica uma coisa mágica, assim como o texto. A gente cria uma viagem pra quem nos assiste.

ALTEREGO: E a música?
REIFF: Eu vejo as pessoas tão apaixonadas pela música que eu fico até sem jeito pra falar como ela é importante pra mim. Eu sempre me surpeendo e me encanto com a boa música. Toco alguns instrumentos musicais, de forma puramente intuitiva. Isso impõe uma limitação, porque ninguém pode tocar bem se valendo apenas da inspiração. Mas não me intimido. Acho que a arte é uma forma de expressão, e a gente só pode lapidar se estiver fazendo.


ALTEREGO: Como você se define.
REIFF: Eu não me defino. Estou em paz com a minha barriga. (risos)Mas, de boa, cada dia que passa eu sei menos quem sou. Gosto de me surpreender. Eu vou me inventando, vida afora.