quarta-feira, 25 de março de 2009

HUMOR E ZEN BUDISMO

MORFINO: Um dia você disse que pensou em ser um monge budista, mas desistiu porque "era silêncio demais". Como é que você resgata essa sua afirmação no trabalho de humor que você faz hoje?
REIFF: Eu acho que estou cada vez mais zen, e essa é a maior fonte de humor que eu conheço. Para vermos o humor, é importante estarmos disponíveis, perceptivos, presentes. E o budismo filosófico propõe exatamente isso. Eu sinto uma necessidade de falar sobre essas coisas que vejo e que me encantam. Não dá pra guardar só pra mim.

MORFINO: O que você acha que acontece quando você expõe essas percepções artisticamente?
REIFF: Eu disponibilizo novas maneiras de olhar, inspirando as pessoas a também abandonarem suas percepções requentadas e tediosas sobre a vida. E cada um que passa a olhar as coisas de forma mais sensível, integrada, perceptiva, acaba contribuindo para um enriquecimento da vida coletiva. O nosso mal é que nos apegamos a modelos que deixam a vida muito chata. E o pior é que não nos damos conta desses modelos.

MORFINO: Dê um exemplo.
REIFF: Eu acabei de escrever um texto sobre o budismo que me pareceu muito inspirado. Talvez tenha sido uma das melhores coisas que eu tenha escrito nos últimos tempos. Mas, como num passe de mágica, deu um erro na tela e eu não consegui salvar nada. Senti uma profunda sensação de perda, de abandono, de impotência. E poderia ter ficado com esse olhar. Mas me apropriei da experiência para fazer com que o texto ganhasse vida em mim, e passei a escrever uma coisa totalmente nova sobre o mesmo assunto. Resultado: ganhei duas percepções. Somos mágicos em criar percepções. Ou em identificá-las neste vasto mar de percepções, "nunca dantes navegado".

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