quarta-feira, 6 de maio de 2009

A VIDA ESCANCARADA

MORFINO: A tecnologia deixa as pessoas mais expostas. O olhar do "Grande Irmão" está em toda parte. Ao mesmo tempo, parece haver um especial interesse das pessoas nessa exposição. Como um observador atento da realidade, que justificativa você dá pra esse fenômeno?
REIFF: Vejo que a privacidade das pessoas vai ficando cada vez mais reduzida. A qualquer momento você poder ser flagrado por uma câmera digital e uma fatia da sua vida ser exposta no youtube. Veja aquele caso da Daniela Cicarelli, flagrada namorando numa praia lá da conchinchina. Todos nós viramos virtuais paparazzis.
Por outro lado, a exposição desenfreada corresponde a outros interesses humanos, como o de afirmação, de inclusão e de reconhecimento. Mas eu penso que a tecnologia tem contribuído para que os seres humanos repensem a forma de lidar com a verdade, com a imagem e com a imaginação.

MORFINO: A seu ver, onde reside a força dos reality shows?
REIFF: Devem havem muitas variáveis interferindo para que se tenha esse resultado. Pra começar, a presença de pessoas "normais" na mídia subverte a clássica visão de que a mídia era reservada às pessoas importantes, como artistas, políticos etcétera e tal. Agora, pessoas normais também podem ganhar projeção e fama. O público se sente identificado e vive essa relação de forma mais viceral. Por outro lado, pelo menos em tese, o produto dito "real" sugere uma coisa mais suja, menos editada, e portanto mais saborosa, uma vez que as percepções ficam menos pasteurizadas.
No fundo a gente sabe que os reality shows oferecem percepções igualmente manipuladas, atendendo a objetivos impostos pela necessidade de audiência.
Acho que o youtube tem aberto um espaço representativo para o espetáculo da realidade. Acho que ele também tem uma importância pedagógica, ensinando a humanidade a olhar com mais atenção pra coisas que a vida disponibiliza no backstage da mídia tradicional, e que são muito interessantes. Também acho que as pessoas estão meio cansadas daquela abordagem "fake" das coisas, ditada puramente por interesses mercadológicos. Todo mundo anda mais ligado na transparência, na verdade, nessa coisa empática que é a realidade.

MORFINO: E o que é a realidade?
REIFF: Realidade é aquilo que a nossa percepção nos dá, a percepção de cada um, em um determinado momento. A realidade é um conceito quântico, totalmente virtual. Acredito que o que faça realmente a diferença é aquilo que o espectador acredite ser a realidade. Entendendo algo como real, sua relação com o "show" fica mais empática, a transferência mais fluida. Penso que a tal "realidade" tenha uma especial força catártica.

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