quinta-feira, 25 de setembro de 2014

OLHAR PRO MUNDO NA VIAGEM QUE ELE É

MORINO: Todo escritor é viajandão?
REIFF: Todo pensador é viajandão. Pensar é viajar no planeta da filosofia. Que é o ideal.
MORINO; Você paga um preço disso?
REIFF: Com certeza. O mundo da ilusão será sempre mais bonito. Porque é você que o concebe como quer. É o seu desejo realizado. Se a gente fica muito lá, fica pouco cá. E tropeça, e quebra-coisas, e esbarra no diálogo dos outros...
MORFINO: O pior é desconectar, não é?
REIFF: Sim. A conexão é mágica. Quando a gente está em sintonia é do caralho. Muito mais legal do que uma viagem pessoal. Uma viagem a dois. Ou a mil, é muito mais divertida.
MORFINO: O artista tem uma dificuldade de sair de si, não tem?
REIFF: Acho que sim. Ele é dragado por sua viagem. É seduzido por ela. Como uma ninfa que canta uma música irresistível no seu ouvido...Mas quando ele deixa de ouvir, percebe que existe uma outra ninfa mostrando uma flor que está bem no vaso de flor à sua frente...Ou que está naquela prosa boa que está rolando e que você não tava lá, ou tava de corpo presente....
MORFINO: Você ficou mais conectado depois de velho?
REIFF: Depois de velho é sacanagem...Fiquei mais disponível com o passar dos anos. E vi o quanto eu havia perdido também. Porque a nossa viagem é boa, mas fica muito melhor com as que estão em torno...
MORFINO: Isso parece roteiro de clipe político. Você escreve?
REIFF: Se fosse pago pra fazer, escreveria sim. Eu não sei se teria as manhas de trabalhar como ator na campanha de alguém que eu não admirasse, por uma questão de coerência...mas fazer textos é o meu trabalho...e quanto a isso eu não posso ter preconceitos...
MORFINO: Não pode?
REIFF: Não quero. Acho muito interessante viajar em qualquer ponto de vista. O preconceito só nos tolhe pontos de vista...
MORFINO: Uma vez você disse que fazer roteiros era definir intenções...Quais são as suas intenções
REIFF: Eu quero cada vez mais estar lúcido. Olhar pro mundo na viagem que ele é.

Nenhum comentário: